elevador

Leopoldo é um cara normal. Tem um apartamento normal. Uma vida banal. Um tédio anormal. E um vício insustentável: a preguiça. Não é uma preguiça comum, não é nada natural aos humanamente ociosos, é um desejo forte de ficar na varanda. Começou com uma pausa para respirar ar puro - como se houvesse ar puro. Depois foi um prazer de ter a retina cheia de luz urbana. Logo se tornou uma tortura necessária. Estar na varanda do décimo quinto andar a madrugada toda.  Acomodou uma poltrona. No terceiro mês já não ia dormir na cama, o sono cansado e torto repousava na poltrona velha e mofada.  A vida tornou-se o acordar com o sol,  ouvir os primeiros ônibus na ruas, os primeiros sussurros, o primeiro incômodo auditivo agudo e chato que vem de não sei onde. Leopoldo mudou a vida vendo a cidade desta maneira. As janelas que acendiam as seis da tarde, apagavam onze, reacendiam as seis da manhã. Aglomerado de guarda chuva durante a tempestade, vazio existencial, bêbados trançando a rua, ciclistas frágeis, crianças no ponto de ônibus animadas quando chegam juntas da escola. Numa sexta a noite, guardou a poltrona na sala, fechou a porta de vidro, ligou a tv e deitou no sofá