Indigestão

Eu me sinto exausta. O mesmo tédio de sempre. Só que mais cinza. Mais sombrio. Um dia vou ser médica? Essa possibilidade parece escorrer pelas minhas mãos. Eu conquistei muitas coisas, mas mesmo assim não consigo acreditar em mim. É um jogo muito delicado e qualquer tropeço me parece derrubar para o fundo do poço novamente. É estranho estar viva e mal suportar a própria idade. O tempo parece passar contra mim. Sou obcecada por uma universidade que nunca me amou de volta. Mas não consigo me desapegar. Parece que não consigo me desapegar de nada. Inclusive dos meus pais. Preciso aceitar que eles são dois idiotas e que nunca vão me amar de volta. Preciso deixar de depender da opinião deles. E, principalmente, preciso parar de sentir pena. Sentir dó é o que, no fundo, me sufoca, me traz culpa. E eu sei que não tenho culpa de nada. Eu não posso carregar ninguém além de mim. 

Eu me sinto industrializada. Assim como a comida ultra-processada que eu engulo com uma mistura de felicidade e desespero. Cada grama consumida é um segundo a menos na minha vida. Mas os vegetais estão cheios de agrotóxicos. E os orgânicos são falsos. Meu estômago não suporta. Eu acordo de madrugada enebriada. Minha garganta queima, minha boca arde. Eu me desespero porque preciso cumprir tarefas mecanizadas. Falto à aula assim como quem falta à execução na guilhotina.

Eu só queria saber quando será o fim dessa angústia. 
Meu coração está cansado de sofrer.