maçãs murchas e amargas

São Paulo, novembro

Querido,

Está frio como somente essa cidade sabe ser. Apesar do verão que se aproxima. Apesar do ano que acaba. Apesar do calor insuportável que fez poucas semanas atrás. A noite estava fria e eu não consegui dormir. Eu não consigo dormir há tempos. Apesar dos incontáveis e tóxicos remédios que eu insisto em tomar. Eles só me deixam grogue e a tornam a experiência da madrugada ainda mais perturbadora. A luz do pisca pisca (precoce?) do vizinho formava desenhos fantasmagóricos na minha parede. A única luz tolerável era a da geladeira, que eu abri e fechei infinitas vezes em busca de nada. Só havia ovos, água, queijo com viabilidade questionável e maçãs murchas. Eu sinto fome de madrugada, mas não comeria nada. Porque os remédios tornam tudo intragável, amargo. Eu quero ir embora. Cigarros queimam mas não aquecem. Cigarros seriam fumados em vão. Enquanto amanhecia eu pensava em você. Em todas as nossas palavras irresponsáveis que um dia vão nos machucar.


Eu sinto sua falta.



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